O Cinema Novo

O que foi o movimento?

O Cinema Novo foi um movimento cinematográfico brasileiro que surgiu na década de 1960. Ele foi marcado por uma abordagem mais realista e crítica da sociedade brasileira, buscando retratar de forma autêntica a realidade do país. Os cineastas do Cinema Novo tinham como objetivo principal fazer um cinema que fosse ao mesmo tempo artístico e politicamente engajado, buscando assim promover uma reflexão sobre a identidade e os problemas do Brasil.

Glauber Rocha é amplamente considerado o cineasta mais influente do Cinema Novo. Hoje, o movimento é muitas vezes dividido em três fases seguidas que mudam em tom, estilo e conteúdo.

História

O Cinema Novo surgiu em um momento de efervescência cultural e política no Brasil. Nas décadas de 1950 e 1960, o país passava por grandes transformações, com o crescimento da urbanização, industrialização e a intensificação dos movimentos sociais e políticos.

Nesse contexto, os cineastas do Cinema Novo viram no cinema uma forma de expressar suas visões e críticas sobre a realidade brasileira. Eles buscavam romper com as influências estrangeiras e criar uma linguagem cinematográfica que fosse genuinamente brasileira, inspirada nas raízes culturais e sociais do país.

O movimento foi influenciado por correntes artísticas e intelectuais da época, como o modernismo e o engajamento político de esquerda. Os cineastas do Cinema Novo tinham uma visão crítica da sociedade brasileira, denunciando a desigualdade social, a exploração e a opressão, e buscando promover uma reflexão sobre a identidade nacional e o papel do cinema como forma de resistência e transformação social.

Ao longo da década de 1960, o Cinema Novo produziu filmes que se tornaram ícones do cinema brasileiro, como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), de Glauber Rocha, e “Vidas Secas” (1963), de Nelson Pereira dos Santos. Esses filmes não apenas marcaram o cinema brasileiro, mas também influenciaram gerações posteriores de cineastas e contribuíram para a construção de uma identidade cinematográfica brasileira.

Primeira Fase (1960-1964)

Nesta fase inicial, os cineastas do Cinema Novo buscavam romper com as formas tradicionais de fazer cinema e criar uma linguagem cinematográfica autenticamente brasileira. Inspirados pelo neorealismo italiano e pela nouvelle vague francesa, eles exploraram novas técnicas de filmagem, narrativa e montagem para retratar a realidade brasileira de forma crua e direta.

Filmes como “Rio, 40 Graus” (1955), de Nelson Pereira dos Santos, e “Barravento” (1962), de Glauber Rocha, foram pioneiros nessa busca por uma linguagem nacional. Eles abordavam temas como a vida nas favelas cariocas e a cultura afro-brasileira, trazendo para as telas uma realidade até então pouco explorada pelo cinema brasileiro.

Segunda Fase (1964-1968)

Com o golpe militar de 1964 e o início da ditadura no Brasil, o Cinema Novo passou por uma radicalização política. Os cineastas se tornaram mais engajados politicamente e passaram a fazer filmes que denunciavam as injustiças sociais e políticas do país. Eles se tornaram porta-vozes de uma geração insatisfeita com a situação do país e buscavam através de suas obras promover uma reflexão sobre a realidade brasileira.

Filmes como “Terra em Transe” (1967), de Glauber Rocha, e “Vidas Secas” (1963), de Nelson Pereira dos Santos, são exemplares dessa fase. Eles abordavam temas como a corrupção, a opressão e a luta política, mostrando uma realidade dura e muitas vezes cruel, mas que precisava ser enfrentada e transformada.

Terceira Fase e o Novo Cinema Novo (1968-1972)

A terceira fase do Cinema Novo, também conhecida como “fase canibal-tropicalista”, foi caracterizada por uma mistura de temas sociais e políticos em um cenário que refletia a riqueza e a exuberância da selva brasileira. O movimento tropicalista, que influenciou essa fase, era marcado pelo uso do kitsch, mau gosto e cores vibrantes.

O termo “canibalismo” era usado tanto de forma literal, como em filmes onde personagens eram sequestrados e comidos por canibais, quanto de forma metafórica, representando a ideia de que o Brasil deveria “canibalizar” seus inimigos estrangeiros, apropriando-se de sua força sem ser dominado por eles.

Ambos os tipos de canibalismo são visíveis em Como Era Gostoso o Meu Francês (Nelson Pereira dos Santos, 1971), em que o protagonista é sequestrado e comido por canibais literais ao mesmo tempo em que é “sugerido que os índios (ou seja, o Brasil) deve metaforicamente canibalizar seus inimigos estrangeiros, apropriando-se de sua força sem serem dominados por eles”.

O Cinema Novo de terceira fase também se tornou mais polido e profissional, produzindo filmes que exploravam a rica cultura brasileira por seus próprios méritos estéticos, e não apenas como metáfora política. No entanto, essa mudança levou alguns a sentir que o Cinema Novo estava se afastando de seus ideais originais, o que resultou no surgimento do Novo Cinema Novo, que buscava retornar ao foco original em personagens marginalizados e problemas sociais.

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marciosoares

Márcio Heleno Soares é realizador de cinema, roteirista e produtor. Dirigiu os curtas Memórias de um Celular (2008), Lambari (2012), Não Há Gatos na Casa (2013), Azul Prussiano (2016). Foi produtor dos longas “O Cineasta” de Leandro Martins e “Planeta Escarlate” de Dellani Lima. Recebeu diversos prêmios incluindo o de melhor filme no Vivo Arte.Mov 2008 e Melhor Curta na Mostra Municípios do Goiânia Mostra Curtas. Seus trabalhos já foram exibidos em grandes festivais brasileiros como Festival do Rio, Tiradentes e Cine Ceará. Atualmente é diretor de produção da UNEC TV e um dos organizadores da Mostra Nacional de Cinema de Caratinga – Olhares do Interior. Em 2020 compôs o corpo de jurados do Festival de Cinema CINEFORTE da Paraíba.